domingo, 3 de fevereiro de 2013

Sobre o Show MADE IN CEARÁ, do EDMILSON FILHO

 
O espetáculo MADE IN CEARÁ não é só humor, mas um brinde a nossa cearensidade. As sutilezas da vida passam ali, mostrando especificidades nossas que só um cearense entende de verdade. A comparação ao povo americano nos faz pensar o quanto somos diferentes, mas o quanto somos de verdade, o quanto somos a nata do lixo, o luxo da aldeia, somos do Ceará, como diz Ednardo em Terral.
Halder Gomes, assi...m como em "Cine Holliúdy”, soube captar toda a essência do cearense, sem ridicularizá-lo e sem torná-lo menor diante os costumes da sociedade americana. Fazer humor sem menosprezar, caricaturar ou impor que uma cultura seja melhor ou pior é muito difícil, mas Halder conseguiu.
Saímos do espetáculo com a sensação de que realmente somos diferentes, mas nem melhores nem piores por isso. Saímos leves, felizes por fazer parte de um povo que não carrega na alma somente a seca, a pobreza, as discrepâncias sociais, mas carrega muito mais: a alegria de uma infância com “Perna cabeluda, Loura do Banheiro, Homem do Saco”, sem príncipes nem princesas, mas de felicidade irrestrita, mesmo quando se tem pouco para sonhar. Carregamos na bagagem um palavreado só nosso, repleto de afetações, transgressões, mas que representa o que há de mais importante em um povo: a sua cultura. Dizer “o cão comendo mariola”, “menino amofinado”, “Aí dentro” é tão legítimo quanto um “Oh my God” dos americanos, e não nos faz grosseiros ou rudes, pelo contrário, nos faz gente, gente com toda a intensidade da palavra. Ou quando usamos um “Ieeeeeeeeeeeeeeee” (grito de guerra cearense), lembrando de que isso é nosso e de mais ninguém, nas horas mais inusitadas da vida. Como diz Ariano Suassuna, “Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.”. E isso MADE IN CEARÁ tem de sobra.
E para compor esse universo cultural e social cearense e americano, só um cearense Tio Sam: Edmilson Filho, o Francisgleydisson, protagonista da obra ímpar de Halder Gomes. Halder disse em entrevistas que não poderia escolher outro ator para seu curta e longa Cine Holliúdy. Para o espetáculo MADE IN CEARÁ não poderia ser diferente. Edmilson incorpora o cearense feliz e realizado que traz na pele as sentenças de um povo de bem com a vida. Por ser cidadão americano e presenciar as especificidades desse povo, consegue como ninguém retratar o seu dia a dia. Comparar as várias situações do cotidiano desses povos (cearenses e americanos) é no mínimo inusitado, pois quem os conhece sabe que há uma cratera entre os dois. Mas aí é que está o grande charme de MADE IN CEARÁ, mostrar que as diferenças muitas vezes aproximam e que apesar de tão diferentes sempre há uma intersecção. O humor consegue deixá-los em um único patamar: povos diferentes, sem superioridade nem inferioridade.
Edmilson consegue ser engraçado não só pelo texto, mas pela apresentação corporal. Os gestos, a fisionomia, os trejeitos dão equilíbrio ao que um ator precisa em cena. O palco é dele e de mais ninguém. Somos consumidos em 1h10min por um texto fantástico que mescla ações do dia a dia, costumes, ocasiões especiais... tudo isso com um vocabulário repleto de representações significativas para cada espectador. A vontade é de pedir bis, querer mais, rir mais, ser cearense cada vez mais. Edmilson não é um ator, é um showman. Não é comediante, é um universo de risos. O Brasil não precisa de mais um ator, humorista... precisa de alguém que tenha a sensibilidade da arte como Edmilson para atuar com tanta precisão e generosidade e deixar no palco o corpo e a alma e em nós, espectadores, a sensação de que o espetáculo está apenas começando.
Um brinde ao espetáculo MADE IN CEARÁ que nos possibilitou rir de nós mesmos, nos aproximando realmente do que somos de verdade: gente feliz, só isso... e isso é muito!

Elaine Pereira
Professora Universitária

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